DIABLO SWING ORCHESTRA
Inferno Club, SP/SP – (29/05/12)
Texto e fotos por Evandro Camellini
O Diablo Swing
Orchestra (ou apenas DSO, para facilitar) é uma banda ainda (infelizmente)
consideravelmente desconhecida em nossas terras. Oriundos da Suécia, a banda
traz consigo um cartão de visitas no mínimo curioso. Sua história narra que a
formação original do grupo data de 1503, quando um grupo de músicos, ao formar
uma orquestra onde executavam sons considerados profanos para a época, dada sua
métrica musical e forma com que essa música envolvia as pessoas, passaram a
incomodar a igreja do local. Não demorou para esse incômodo ganhar a forma de
blasfêmia, e o grupo passar a ser considerado satânico. E como era de se
esperar, esse incômodo cresceu, virando uma perseguição, o que obrigou os
músicos a viverem e se apresentarem de forma clandestina. E, após uma grande
recompensa ser colocada a cerca de suas cabeças, o grupo decide fazer uma última
apresentação. Apresentação essa que leva milhares de pessoas a ela, e que
termina com a destruição do palco e instrumentos pelos soldados do clero, e a
consequente prisão e condenação a morte dos músicos. Porém, cientes de seu
destino selado, os músicos firmaram um pacto onde diziam que seus descendentes
diretos, 500 anos após o ocorrido, deveriam reativar a orquestra, e deixaram
isso selado em cartas que foram deixadas em seus domínios familiares. E então,
em 2003, de forma totalmente aleatória, dois desses descendentes se encontram,
discutem suas histórias, percebem a curiosidade da situação e então decidem
procurar todos os sete responsáveis em colocar o legado de volta a ativa.
E foram
justamente esses “escolhidos” que fizeram uma apresentação impecavelmente
enlouquecida no Inferno (sugestivo local, não?), nesta agradável noite de
terça-feira, na capital paulista. Formado por Annlouice Loegdlund (vocal
lírico), Daniel Håkansson (guitarra), Pontus Mantefors (guitarra), Anders
Johansson (baixo), Johannes Bergion (cello), Martin Isaksson (trompete), Daniel
Hedin (trombone) e Johan Norbäck (bateria, recentemente oficializado na banda),
o DSO trouxe ao palco uma sonoridade simplesmente arrebatadora! Algo impossível
de rotular, provavelmente o mais correto seja dizer apenas música. E de extrema
qualidade! Executada de uma forma ímpar, onde o palco se transforma numa festa.
Não foi em vão o comentário que fizeram que “trariam o caos para SP”. Pois foi
exatamente o que fizeram! Desde o início do show com a espetacular Guerrilla
Laments e seu samba de introdução, o que todos puderam ver foi uma banda se
divertindo como poucas vezes, arrisco até a dizer nenhuma vez visto algo similar
antes! Todos os músicos dançavam, faziam caretas, insuflavam o público de forma
ininterrupta, e toda essa energia era retribuída e mais! O set se seguiu com A
Rancid Romance, How to Organize a Lynch Mob, Black Box Messiah, VooDoo Mon
Amour, Heroines, pouca conversa e muita interação entre banda e público. Fica
impossível descrever tudo o que se via em cima do palco, pois era tanta
informação, tanto motivo para se rir e comentar algo com quem estivesse ao lado,
que querer narrar os acontecimentos on stage torna-se loucura! O caos continuou
com Wedding March For A Bullet, Bedlam Sticks, Infralove, Lucy Fears the Morning
Star, A Tap Dancer's Dilemma, Kevlar Sweethearts, Poetic Pitbull Revolutions e
Ricerca Dell'Anima, com as músicas sendo executadas quase que emendadas umas as
outras. Vodka Inferno e Balrog Boogie fecharam o show, sem pausa para bis, com a
última quase derrubando o Inferno.
É necessário
dizer que tudo foi surpreendente. Desde a banda como um todo, passando pelo
grande público que quase lotou a casa, até a incrível qualidade de som que se
pode ouvir nessa noite. Vale muito salientar o incrível alcance e potência de
voz de Annlouice, uma vocalista impecável, com uma técnica tão grande quanto seu
carisma. Anders, um baixista insano, tanto no tocante a presença como em
execução das músicas. O show a parte que vinha dos metais, com Martin e Daniel,
numa interatividade absurda! A bateria extremamente precisa daquele “fugitivo de
Woodstock” que atende pelo nome de Johan. Mas ninguém ali se compara a Johannes.
Ele simplesmente encarna a alma da banda! Uma das presenças de palco e
interatividade com o público mais absurdamente marcantes que já pude presenciar!
Enquanto tocava seu cello, permanecia sentado, fazendo caretas e mexendo com o
público. Quando estava cantando, em pé, dançava de uma forma esdrúxula, cômica,
que era impossível não se deixar contagiar! Um ícone!
A verdade é
que a história que a banda criou para se apresentar ao mundo pode ser uma
grandessíssima balela, mas já mostra logo na chegada a criatividade latente e um
diferencial natural que esses músicos carregam consigo. E essas são facilmente
percebidas nas músicas. Músicas de músicos, mas não apenas para músicos
consumirem. Na apresentação visual que carregam, onde se encontra de tudo em
cima do palco! Na energia e alegria que despejam em doses cavalares sobre o
público. Como ouvi um amigo da imprensa dizer “nunca vi tanto headbanger
dançando!”. Eu vou além: nunca tinha visto uma banda como Diablo Swing
Orchestra!
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